segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Volumes 1 e 2 - Comentários de Cláudia Martins


Velho Império sem Czar 1 e 2

Antes de mais nada, eu gostaria de dizer que gostei de A batalha das libélulas, mas gostei muito mais de A queda de Babilônia. Perguntei-me, então, por que isso teria acontecido. Há várias explicações possíveis. A primeira seria que o primeiro livro assusta um pouco, pela falta de referências. Ao ler o segundo, já conhecemos a história, de certa forma, então fica mais fácil acompanhar. A segunda explicação, um pouco mais pessoal, é que no segundo livro há mais interação entre os personagens. Aguirre está sempre conversando com Soraya ou Valquíria, e eu sou fã de livros em que há interação entre os personagens. A terceira hipótese está ligada a esta segunda: eu teria gostado mais deste livro porque gosto mais de Aguirre como personagem do que de Flamínio. Um dos méritos da série é exatamente que o livro centrado em Flamínio tem a cara do Flamínio – é volúvel, irrequieto, cheio de ação. O livro centrado em Aguirre é mais intimista.

Diverti-me muito com a parte em que aparecem os Augúrios. Eu sei muito bem de quem se trata. Esse é um aspecto desta série que a torna um tanto… elitista? exclusivista? qual seria o melhor termo? – há muitas inside jokes. Piadas que só os mais íntimos entendem. Mas e daí? Provavelmente o Ulisses do James Joyce também está cheio de inside jokes, e os estudiosos ficam escavando em busca das explicações… O que complica tudo ainda mais é que a Valéria não é bem a Valéria, e o Bar do Ernani não é bem o Bar do Ernani, se é que vocês me entendem. Talvez um dia eu seja entrevistada pra explicar muitas dessas referências. O problema é que eu não sei todas! Preciso urgentemente de um “Velho Império sem Czar Explicado” ou “Velho Império sem Czar for Dummies”.

Nunca mais escutaremos o Aphrodite’s Child com os mesmos ouvidos. Nem o hino do Galo do Japi. E todas as vezes que eu me vir diante de um elevador, vou me perguntar se ele é o mesmo ou não.

Aguardo ansiosamente o lançamento dos próximos livros – e da Turminha do Sacomâ[1]. Uma pergunta que não quer calar: será que nossos heróis da O. conseguirão derrotar os filhos do P. e a agromáfia? Ou será que tudo vai terminar no ponto onde estamos, ao final dos livros 1 e 2?  De qualquer forma, vendo que os autores sabem lidar tão bem com pontos de vista diferentes, estou muito curiosa para ler outros desses pontos de vista. Tenho a impressão de que vou gostar mais da história a cada livro.


[1] Em breve, nas livrarias, Mirna contará tudo sobre essa nova sensação!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A Batalha das Libélulas - Comentários de Gavin Adams


“Terminei o primeiro tomo da Batalha das Libélulas, muito pirante. Gostei bastante. Na linha da Gomes Moor, quero deixar algumas impressões. Pode conter spoilers!
A cadência é vertiginosa, e ter sido escrito a 4 mãos dá uma sensação de violenta alternância entre o arranque e o coitus interruptus. Achei muito bom não conseguir dizer quem está a escrever, um terceiro híbrido inseto-escritor emerge da parceria entre Glautúrnio Polenta e Guian de Bastos. Da mesma forma, a alta velocidade impede a coagulação de personagens muito definidos. Estes são pincelados de forma meio rápida (desconfio que o Guilherme é quem aporta adereços – músicas, discos, livros, logradouros– enquanto o Guian prefere gestos e vozes, sotaques, e talvez brevíssimas características físicas). E, como num pesadelo roteirizado a partir de Guerra e Paz e Os Irmãos Karamazov, logo nas primeiras páginas fica impossível acompanhar quem é quem, ainda mais com as trocas de nomes e codinomes. O melhor é ler o livro de enfiada, pois assim algumas coisas vão decantando no redemoinho narrativo. Isso me lembrou muito do Satyricon, que é ele mesmo um fragmento, onde não fica claro se falta à sucessão meio arbitrária de situações e ao cinismo dos personagens trechos adicionais de texto que amarrem as jornadas deambulantes pela Roma antiga.
No meio de tudo isso, de tanta coisa deixada para trás, de tanto entulho mnemônico boiando, parece que o melhor que o leitor pode fazer é rolar na onda e atentar para as repetições e diferenças. Fica claro depois de um pouco que os loops e repetições com pequenas diferenças ajudam a definir uma trama mínima dentro do vendaval, tipo Aquela Noite em Marienbad contraposto às sequências infinitas auto-portantes das Mil e Uma Noites (uma história dentro da outra dentro da outra...). Desconfio que no fundo a O. nada mais é que um clube literário, especialmente quando todos dão seu depoimento na reunião, me vi em um Decameron contemporâneo ao avesso.
Achei sutil também que as metamorfoses sofridas pelas pessoas aparecem apenas ao longo da história. Quando as pessoas-libélulas aparecem na passeata, logo nas primeiras páginas, não fica claro se são apenas foliões fantasiados. Essa ambiguidade, carregada para dentro da narrativa, ajuda a acumulação de marcadores narrativos, decantando no cenário em ciclos mais amplos: seriam as mutações causadas por pesticidas ou seriam uma evolução pós-humana de singularidades não mais antropocêntrica, mas sim de ampliação de possibilidades genéticas?
A velocidade vertiginosa e os furúnculos de multiplicidade que estouram a cada página colocam uma urgência narrativa: como será possível terminar um livro como esse? Que convergência, sesura ou continuação conseguiria dar conta deste chorrilho literário?
O primeiro volume termina com um golpe de mestre: o autor(es) vira(m) Simeão Estilita, içado ao topo de uma coluna, o que suspende a trama por algum tempo. Mas esse drible só se dá uma vez... como será o final do segundo volume? Um best-seller pintaria uma ampla cena da contra-grande-ofensiva, descreveria um panorama cinemático do campo de batalha, talvez com helicópteros e libélulas zunindo por cima, uma ou duas mortes exemplares, seguidas de depoimentos emocionados e resoluções breves de personagens-chave, com algum tipo de reconciliação ou equilíbrio amarrando todas as pontas".
GAVIN ADAMS 

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A Queda de Babilônia - Comentários de Ricardo Antonio Lucas Camargo


"Terminei de ler A Queda da Babilônia. Ao lado de uma história cativante, sob as perspectivas tanto do Flamínio quanto do Aguirre, as referências tanto a Mozart quanto a Wagner, Conrad aparece juntamente com Vangelis, sem contar com algumas saborosas reminiscências de São Paulo (como o Teatro Nydia Lícia, que ficava na Domingos de Moraes), algumas paródias, tudo isto mostra que a dupla foi capaz de produzir literatura de primeira ordem num momento em que isto parecia lançado aos museus."
RICARDO ANTONIO LUCAS CAMARGO